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Mostrando postagens de 2015
Quando comecei esse blog eu queria descrever vários fatos diferentes, na verdade só os personagens mudam, de resto é quase tudo igual.  Massante e sem sentido.
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Acostuma-se carregar pedras desde cedo Há tempos em que parecem tão pesadas que chegam fazer sangrar os ombros Porém um dia se desperta e diz - Chega hoje não carrego mais uma pedra sequer... E nesse momento o seu opressor se torna apenas uma pessoa comum entre tantas outras.

A mulher ao seu lado é desejo de outro!

Mulheres gostam de verdades. Mas não acreditarão fielmente de que seu celular estava sem bateria, de que seus amigos gostam dela ou de que sua ex-namorada não significa mais nada para você. Mulheres gostam de maquiagens sutis e cabelos bem lisos. Mulheres têm olhos angelicais e diabólicos. Ambos funcionarão com você. Ambos te levarão ao céu ou ao inferno. Mulheres são péssimas motoristas. Mas são ótimas condutoras. Mulheres que não bebem são boas. Já as que bebem são ótimas. Mulher anda como quem desfila. Como quem grita por aí tua tendência a ser miss quarteirão de todos os anos. Melhor do que perfume caro é cheiro de banho tomado. E, também, o cheiro da pele suada que empresta sua essência às camisolas mais leves. Melhor do que vestidos da moda são as nossas blusas sociais sortudas. Aquelas que por algum motivo foram esquecidas na segunda gaveta e agora faz parte do cabide principal feminino. Melhor do que cabelos alisados é rabo de cavalo ou fios inteiramente despenteados. Mul

Mulheres...

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Mulher da roça de pés rachados, mãos calejadas e suor nos cabelos Mulher valente de facão e enxada nas mãos Como um olhar ingenuo e esperto que sabe trabalhar Mulher, mãe, filha e amiga Guerreira, que pita, mija na estrada e defeca na vala Mulher de valor, que amassa pão e chora se não vê chover na lavoura Mulher como eu que estudou pouco e apesar disso sabe muito A sabedoria da vida, de dias de sol e de chuva. Mulher da roça, cabocla, mestiça, mulata e índia Nós somos as mulheres do Brasil
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O sorriso sincero de uma criança!    Nós os adultos, não sabemos sorrir Perdemos a ingenuidade com o tempo Nos tornamos frios, calculistas, ambiciosos e promíscuos... Talvez seja por isso que tenhamos que morrer cedo ou tarde, para não perpetuarmos nossa inexistência.
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Passei tempo demais observando os outros e me esqueci de olhar para dentro de mim... Tabacaria Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo. Janelas do meu quarto, Do meu quarto de um dos milhões do mundo. que ninguém sabe quem é ( E se soubessem quem é, o que saberiam?), Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente, Para uma rua inacessível a todos os pensamentos, Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa, Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres, Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens, Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada. Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade. Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer, E não tivesse mais irmandade com as coisas Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada De dentro da min
As Palavras Interditas Os navios existem, e existe o teu rosto  encostado ao rosto dos navios.  Sem nenhum destino flutuam nas cidades,  partem no vento, regressam nos rios.  Na areia branca, onde o tempo começa,  uma criança passa de costas para o mar.  Anoitece. Não há dúvida, anoitece.  É preciso partir, é preciso ficar.  Os hospitais cobrem-se de cinza.  Ondas de sombra quebram nas esquinas.  Amo-te... E entram pela janela  as primeiras luzes das colinas.  As palavras que te envio são interditas  até, meu amor, pelo halo das searas;  se alguma regressasse, nem já reconhecia  o teu nome nas suas curvas claras.  Dói-me esta água, este ar que se respira,  dói-me esta solidão de pedra escura,  estas mãos nocturnas onde aperto  os meus dias quebrados na cintura.  E a noite cresce apaixonadamente.  Nas suas margens nuas, desoladas,  cada homem tem apenas para dar  um horizonte de cidades bombardeadas.  Eugénio de Andrade, in “Poesia e Prosa”  
Até Amanhã Sei agora como nasceu a alegria,  como nasce o vento entre barcos de papel,  como nasce a água ou o amor  quando a juventude não é uma lágrima.  É primeiro só um rumor de espuma  à roda do corpo que desperta,  sílaba espessa, beijo acumulado,  amanhecer de pássaros no sangue.  É subitamente um grito,  um grito apertado nos dentes,  galope de cavalos num horizonte  onde o mar é diurno e sem palavras.  Falei de tudo quanto amei.  De coisas que te dou  para que tu as ames comigo:  a juventude, o vento e as areias.  Eugénio de Andrade, in "Até Amanhã"  
Urgentemente É urgente o amor  É urgente um barco no mar  É urgente destruir certas palavras,  ódio, solidão e crueldade,  alguns lamentos, muitas espadas.  É urgente inventar alegria,  multiplicar os beijos, as searas,  é urgente descobrir rosas e rios  e manhãs claras.  Cai o silêncio nos ombros e a luz  impura, até doer.  É urgente o amor, é urgente  permanecer.  Eugénio de Andrade, in "Até Amanhã"  

Infância de Carlos Drummond de Andrade

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Meu pai montava a cavalo, ia para o campo. Minha mãe ficava sentada cosendo. Meu irmão pequeno dormia. Eu sozinho menino entre mangueiras lia a história de Robinson Crusoé, comprida história que não acaba mais. No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu a ninar nos longes da senzala - e nunca se esqueceu chamava para o café. Café preto que nem a preta velha café gostoso café bom. Minha mãe ficava sentada cosendo olhando para mim: - Psiu... Não acorde o menino. Para o berço onde pousou um mosquito. E dava um suspiro... que fundo! Lá longe meu pai campeava no mato sem fim da fazenda. E eu não sabia que minha história era mais bonita que a de Robinson Crusoé.

Solano Trindade (poeta negro)

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NEM SÓ DE POESIA VIVE O POETA ** “Nem só de poesia vive o poeta há o “fim do mês” o agasalho a farmácia a pinga o tempo ruim, com chuva alguém nos olhando policialescamente De vez em quando um pouco de poesia uma conta atrasada um cobrador exigente um trabalho mal pago uma fome um discurso à moda Ruy E às vezes uma mulher fazendo carinho Hoje a lua não é mais dos poetas Hoje a lua é dos astronautas.”   ** poema inédito até 2008, quando foi revelado por sua filha Raquel.

Cora Coralina – Poemas

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Aninha e suas pedras Não te deixes destruir… Ajuntando novas pedras e construindo novos poemas. Recria tua vida, sempre, sempre. Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça. Faz de tua vida mesquinha um poema. E viverás no coração dos jovens e na memória das gerações que hão de vir. Esta fonte é para uso de todos os sedentos. Toma a tua parte. Vem a estas páginas e não entraves seu uso aos que têm sede.